É fácil saber se um amor é o primeiro ou não. Se admite que possa ser o primeiro, é porque não é, o primeiro amor só pode parecer o último amor. O primeiro amor ocupa o amor todo.
Nunca se percebe bem porque razão começa. Mas começa. E acaba sempre mal só porque acaba.
O primeiro amor ocupa tudo. É inobservável. É difícil sequer reflectir sobre ele. O primeiro amor leva tudo e não deixa nada.
Diz-se que não há amor como o primeiro e é verdade. Há amores maiores, amores melhores, amores mais bem pensados e apaixonadamente vividos. Mas não há amor como o primeiro. É o único que estraga o coração e que o deixa estragado.
Atiramo-nos ao nosso primeiro amor sem pensar onde vamos cair ou de onde saltamos. Saltamos e caímos. Há amores melhores, mas são amores cansados, amores que já levaram na cabeça, amores que sabem dizer “Alto- e-pára-o-baile”, amores que já dão o desconto, amores que já têm modo de se magoarem, amores democráticos, que discutem e debatem.
Não há regras para gerir o primeiro amor. Se fôsse possível ser gerido, ser previsto, ser agendado, ser cuidado, não seria primeiro. A única regra é: não pensar, não resistir, não duvidar. Como acontece em todas as tragédias, o primeiro amor sofre-se principalmente por não continuar. Anos mais tarde, ainda se sonha retomá-lo, reconquistá-lo, acrescentar um último capítulo mais feliz. Mas não pode ser. O primeiro amor é o único milagre da nossa vida.
É por ser irrepetível que o primeiro amor não se esquece. O primeiro amor deveria ser o primeiro a esquecer-se, mas toda a gente sabe, durante o primeiro amor ou depois, que é sempre o último.
O primeiro amor prepara-nos para sermos felizes, limando arestas, queimando energias, tornando-nos mais “inteligentes”.
É por isso que o primeiro amor fica com a metade mais selvagem e inocente de nós. Seguimos caminho para outros amores, mais suaves e civilizados, menos exigentes e mais compreensivos. Será por isso que o primeiro amor nunca é o único? Que lindo seria se fosse mesmo. Só para que não houvésse outro.