A MORTE E A SAUDADE
Ao falar na morte, falamos inevitavelmente na saudade que sentimos de alguém que partiu. As horas parecem dias, os dias parecem semanas e, de repente, ao olharmos para o calendário, verificamos que passaram longos anos. Manteve-se inalterável a lembrança do perfume, do gesto, do sorriso. O tempo não apaga, mas aconchega a dor. Arranja-lhe um cantinho ao fundo do peito. E, nesse cantinho, a recordação permanece viva, iluminada, até ao fim da nossa vida. De vez em quando, tem que se arranjar mais espaço para que se consigam acomodar outras dores. Desarruma-se tudo, volta-se a mexer em todo o passado que se esconde na recordação de um desgosto vivido, de uma perda sofrida. A morte unifica-nos. Perante ela, sentimo-nos infinitamente pequenos e tudo se relativiza. Que interessam os problemas profissionais? Que importa não podermos ir ao Brasil no final do ano? O que separa a vida da morte não passa de uma frágil linha que a todo o momento ameaça quebrar-se. Por muito que queiramos arranjar airbags emocionais, face à perda, o único caminho é viver o luto. Entristecemo-nos, choramos, achamos que a vida perdeu todo o sentido. Cada pessoa vive a morte à sua maneira, sendo que a dor não tem, na sua essência, grandes diferenças. A manifestação da dor é que difere. A dor pode ser vivida no silêncio, como algo só nosso que não queiramos partilhar com mais ninguém. Algumas pessoas, perante a notícia da morte de outros (sobretudo quando falamos de alguém muito próximo como filhos ou pais), dizem “eu não aguentava”, como se, de algum modo, apontássem o dedo a todos aqueles que perante essas perdas conseguiram arranjar força para continuar a viver. Costumo perguntar-lhes que alternativa teriam, certa que um ser humano aguenta a maior parte dos sofrimentos, sobrevive às maiores arguras que a vida lhe reserva. Certo é que um dia a ferida transforma-se em cicatriz. Aprendemos a conviver com a dor. Voltamos a conseguir sorrir e, com frequência, passamos a dar mais valor às pequenas coisas. Pensamos com carinho nos amigos que nos ajudaram a ultrapassar os momentos difícies. Espantamo-nos com a frieza de alguns que considerávamos próximos e com a delicadeza de outros com quem nem sequer pensávamos poder contar. A morte tem destas coisas. A realidade dá-nos uma estalada, e das duas uma, ou nos tornamos mais fortes apesar das cicatrizes emocionais, ou sucumbimos perante ela. Não existe terceira hipótese.
5 Comments:
Um texto tão profundo e verdadeiro que fiquei sem palavras para o comentar.
Um beijo.
By Lis57, at quinta-feira, maio 12, 2005
Carlinha,
Deixei-te lá no meu blog um desafio que gostava que aceitasses e respondesses aqui no teu blog.
Fico a aguardar o teu post sobre o tema.
Bom fds.
Bjs.
By Å®t Øf £övë, at sexta-feira, maio 13, 2005
Carlinha,
Depois de te deixar o desafio vou agora deixar um comentário a este teu texto.
Depois de algum tempo descobrimos que as pessoas com quem mais nos importámos na vida são tiradas de nós muito depressa, mais depressa do que nós poderiamos julgar.
Por isso com o tempo aprendemos que realmente podemos suportar, que realmente somos fortes e que podemos ir muito mais longe depois de pensar que não podemos mais. E que realmente a vida tem valor e que nós temos valor diante da vida!
Bjs.
By Å®t Øf £övë, at sexta-feira, maio 13, 2005
A nossa unica esperança e a do reencontro... um dia quem sabe?
É asim que temos que combater a falta que as pessoas nos fazem...
Pensa tambem que a morte não existe...
É só um até já...
Este teu texto é muito bonito...
Beijos.
By pensamentos, at terça-feira, maio 17, 2005
Adorei o teU blog. ta lindO! ja me fizEste fikar a sentir melhor. um beijo
By Anónimo, at quarta-feira, abril 11, 2007
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